Empresário afirma que advogado ligado a líder do governo é dono oculto de fiadora da compra da Covaxin

 "O Tolentino me entregou a carta-fiança. Depois, parou de assumir essa posição de dono da Fib Bank”, diz Fares

empresário Abdul Fares, que revelou à CPI da Pandemia fraudes na Fib Bank, fiadora da compra da vacina Covaxin no Ministério da Saúde, sustenta que a empresa é fantasma e aponta o advogado Marcos Tolentino como dono da Fib. Suspeito de ser sócio oculto da Fib, Tolentino prestará depoimento aos senadores na próxima quarta-feira (1º/8). Em entrevista à coluna, Fares desmentiu as declarações de Roberto Ramos, diretor-presidente da Fib, colhidas na quarta-feira (25/8) pela CPI. E disse que ele é um “laranja” de Tolentino.

Tolentino é próximo ao deputado Ricardo Barros, líder do governo na Câmara e investigado da CPI. Quando Barros depôs aos senadores no último dia 12, acompanhado do advogado, admitiu que Tolentino era seu “amigo pessoal”.

Na entrevista, o empresário paulistano disse que foi apresentado a Tolentino como sendo o dono da Fib. E que recebeu das mãos do próprio Tolentino a carta-fiança da Fib para um negócio privado em agosto de 2020. Fares alugou um imóvel em São Paulo na ocasião. Dois meses depois, quando viu que o contrato estava sendo descumprido e foi cobrar a garantia de pagamento dada pela Fib, disse ter havido uma mudança de postura do advogado alvo da CPI.

“O Tolentino me entregou a carta-fiança, me deu parabéns pelo negócio e me desejou boa sorte. Depois, em vez de dono da Fib Bank, o Tolentino passou a se portar como mero coligado à empresa. Ele parou de assumir essa posição de dono, de protagonista”, afirmou Fares.

Confrontado com o depoimento de Roberto Ramos, diretor-presidente da Fib à CPI nesta quarta-feira (25/8), Fares apresentou uma conversa de WhatsApp que tiveram em junho e que contradiz a versão de Ramos.

"O Roberto fez isso por um motivo claro, de sobrevivência. O Roberto é claramente um laranja. Estávamos diante de uma empresa fantasma”, acrescentou.

No último dia 13, a coluna mostrou que Fares enviou as acusações de fraude contra a Fib em sigilo à CPI. O senador Humberto Costa pediu que a comissão convidasse o empresário do grupo Marabraz a prestar depoimento ao colegiado.

Leia os principais trechos da entrevista.

Como você recebeu uma carta-fiança da Fib Bank, que depois seria a fiadora da compra da Covaxin no Ministério da Saúde e hoje é alvo da CPI?

Tudo começou em agosto de 2020. Eu tenho um espaço de eventos em São Paulo, chamado Casa Fares. Com a pandemia, minha atividade parou e fui procurado por Ricardo Jun em nome da New Beef, uma administradora de fundos. Ele me propôs que eu trabalhasse na empresa como diretor de Marketing e alugasse o imóvel da minha família. Aceitei. Ele quis me dar uma fiança da Fib Bank como garantia. A CPI identificou que a New Beef fez três depósitos de R$ 300 mil para a Fib. Entre esses depósitos deve estar minha carta-fiança.

Qual era sua relação com o advogado Marcos Tolentino, suspeito de ser sócio oculto da Fib?

O Tolentino atua na Benetti & Associados, onde temos um advogado em comum. O Lucas Zanchetta, um dos diretores da New Beef, onde eu trabalhava, tinha grande relação com o Marcos Tolentino. Então, nunca imaginei que o Tolentino ou a Fib Bank não fossem idôneos. Primeiro porque o Tolentino é dono da Rede Brasil, um canal religioso, e aparenta ser um empresário de boa fé. A gente nunca imaginou que a carta-fiança não tivesse fundo, que o terreno não existisse, que fosse uma empresa gerida por mortos.


Como você obteve a carta-fiança para o imóvel?

Eu fiz um evento no imóvel para comemorar o fechamento do negócio, em agosto de 2020. Entre os convidados estavam o Marcos Tolentino, representantes da New Beef e da Pecus, empresas que alugaram o espaço, pastores e padres. E o Tolentino me deu a carta-fiança. Mas jamais imaginei que ele iria desonrar. O documento garantia o pagamento em 30 dias no caso de descumprimento de uma das cláusulas.

O Tolentino lhe deu a carta-fiança da Fib em mãos? O que ele disse?

Sim. O Tolentino me entregou a carta-fiança, me deu parabéns pelo negócio e me desejou boa sorte. Até gravamos um vídeo para esse advogado em comum que temos. Eu fui apresentado ao Tolentino como dono e sócio da Fib por Lucas Zanchetta, diretor da New Beef, onde eu trabalhava e que alugava meu imóvel. Tolentino me disse também que era muito amigo do meu tio, contra quem eu movo processos no âmbito do Grupo Marabraz, da minha família. Tolentino me contou que havia feito negócios de precatórios com a firma da minha família, havia oferecido precatórios para sanar dívidas. Eu e minha mãe denunciamos a Marabraz a partir de 2018, por irregularidades como sonegações de ICMS. Os processos correm na Justiça de São Paulo e na Justiça Federal.

Quando você começou a questionar a fiança da Fib no seu negócio?

Em outubro de 2020, quando tive o primeiro problema no imóvel. Fizeram alterações significativas no imóvel sem nossa autorização ou da prefeitura. Fui atrás desse advogado comum que tenho com o Tolentino, mas ele ficou impedido de ambos os lados. E o Tolentino passou a se portar, em vez de dono da Fib Bank, como mero coligado à Fib Bank. Ele parou de assumir essa posição de dono, de protagonista. Aí tive de notificar a Fib Bank, na pessoa do diretor Wagner Potenza, e a New Beef, a locatária, sobre essa infração do contrato. O diretor da Fib não respondeu ao e-mail e mandei um telegrama, sem sucesso. Finalmente, o diretor me pediu que eu mandasse um e-mail para a Benetti & Associados, onde atua o Tolentino. Fiz isso e se recusaram a receber a notificação. Aí precisei entrar na Justiça. Nenhum advogado do processo com a Fib me respondeu. Foram muito agressivos comigo. Eu queria saber se a empresa era idônea. Os advogados continuaram protocolando documentos em nome das acionistas da Fib. Depois, a repórter Ana Clara Costa publicou que os dois sócios da Fib haviam morrido. Fui atrás dos cartórios e percebi que era uma empresa fantasma movida por falecidos.

Em que pé está o contrato hoje?

Pararam de pagar o aluguel em fevereiro ou março de 2021. Aí entramos com uma nova ação na Justiça, desta vez de despejo. A dívida hoje desse aluguel está em R$ 1,8 milhão. Até agora o juiz do caso e a Junta Comercial de São Paulo não se manifestaram sobre as mortes dos sócios ou a nulidade desses documentos. Eu informei esses detalhes à CPI. Não sei nem se as assinaturas da Fib nesse processo judicial são reais. Não descarto a hipótese de montagem nas assinaturas.

Quando você relacionou as duas cartas-fianças da Fib em questão, enviadas ao seu imóvel e ao Ministério da Saúde?

Eu estava vendo a CPI pela televisão no mês passado e vi uma foto do Tolentino. O senador Rogério Carvalho mencionou a Fib Bank. Aí eu bati com a carta-fiança que estava comigo e as coisas começaram a aparecer. Meu advogado fez essa relação e disse que seria o caso de comunicar à CPI. Estávamos diante de uma empresa fantasma.

A partir daí, você entrou em contato com a CPI?

Eu fiz contato com um advogado que conhecia o senador Rogério Carvalho, e percebemos que a carta-fiança enviada pela Fib ao Ministério da Saúde em março de 2021 era igual à minha, de agosto de 2020. Era baseada no mesmo Fundo Azurita, fictício e sem lastro, além de terem simulado um capital social de R$ 7,5 bilhões.

O que achou do depoimento de Roberto Ramos, diretor-presidente da Fib, à CPI nesta quarta-feira (25/8)?

O Roberto é um mentiroso e mentiu na CPI. Entrei em contato com ele pela primeira vez em junho de 2021. O depoimento dele contradiz toda a nossa conversa no WhatsApp. É uma conversa facilmente auditável. Foi ele que me alertou sobre o Fundo Azurita não existir e de outras fraudes na Fib. Ele já sabia das mortes dos sócios e a ata que o elegeu a presidente é nula. Os falecidos saíram dos túmulos para assinar o mandato dele? Seria o único jeito de ele ter sido nomeado diretor-presidente da Fib. Mesmo assim, teve a cara de pau de mentir à CPI na frente de todo o Brasil em troca de trocados. Eu consegui o contato da mulher dele em um processo a que ele responde em Campinas (SP) por falta de pagamento de condomínio. Um cara que ganha R$ 4 mil por mês não tem a menor estrutura para gerir um capital social de R$ 7,5 bilhões. A Fib depositou R$ 1,9 milhão para a empresa do Tolentino, segundo a CPI. O Roberto não sabe nem onde são os terrenos da empresa, quem contratou para ser advogado. O Roberto fez isso por um motivo claro, de sobrevivência. O Roberto é claramente um laranja.

Você está certo de que Tolentino é ligado de fato à Fib?

Sim. Ao que tudo indica é o Tolentino, sim. Se tem mais gente por trás, cabe à CPI e à PF investigarem. Faço um apelo para que os senadores aprovem um projeto para unificar os registros das Juntas Comerciais com a Receita Federal, para o sistema conter informações de nascimentos e mortes. Fraudes como essa poderiam ter sido evitadas por um sistema integrado. É inadmissível. Seria algo barato. O Congresso também deveria valorizar a figura do whistleblower, o denunciante. Temos que evitar que novos Tolentinos, novos Robertos Ramos existam. É muito prejudicial.

Você foi convidado a prestar depoimento aos senadores. Por que resolveu se expor?

Pelos 570 mil mil mortos por Covid. É para dar um mínimo de moralidade e colocar uma luz no que aconteceu. Denunciei os ilícitos da minha própria família. Há empresas que se acham acima de tudos e de todos, como o grupo Marabraz, a que eu pertenço. A elite brasileira infelizmente não gosta de obedecer regras. A morte do Tarcísio Meira mexeu muito comigo. Nosso país ficou parado. Eu seria um rato se não denunciasse.

Tem medo de fazer essas acusações?

Eu já sofri dois atentados que ficaram sem explicação. Mas não tenho medo. Acho que quem tem medo morre. Eu suplico para que todos denunciem qualquer tipo de irregularidade. Amanhã essa irregularidade, por menor que seja, pode afetar sua casa, sua família. Uma mera ausência de registro de dois falecimentos gerou um prejuízo enorme para o país, quase atrasou nosso calendário nacional de vacinação contra a Covid, e colocou o Brasil numa posição de chacota.

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