Bolsonaro alega para a PF que postou fake news golpista sem querer após ter tomado remédio
Seus advogados dizem que ele "repudia" quebra-quebra dos bolsonaristas em 8 de janeiro
Em depoimento à Polícia Federal (PF) o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) alegou nesta quarta-feira (26) estar sob efeito de morfina quando postou uma mensagem na qual questionava o resultado da eleição presidencial que perdeu em outubro.
A postagem, que na época viralizou e foi apagada horas depois, o levou a ser investigado no inquérito sobre os atos golpistas de 8 de janeiro.
A desculpa foi dada por seu assessor Fábio Wajngarten. Ele disse que Bolsonaro desejava compartilhar o tal vídeo consigo mesmo no WhatsApp para assistir depois e acabou postando no Facebook sem querer. Bolsonaro teria apagado o vídeo quando alertado da postagem.
A fake news foi postada por Bolsonaro dois dias após os atos golpistas de 8 de janeiro, em que apoiadores do ex-presidente invadiram e depredaram as sedes dos três Poderes. A postagem trazia trecho de entrevista de um bolsonarista, procurador do Mato Grosso do Sul, que dizia que as urnas eletrônicas não seriam confiáveis e não permitiriam a contagem dos votos, ou seja, informações mentirosas.
Nesta quarta, sua defesa disse que Bolsonaro não aprovou os atos golpistas de seus apoiadores. Esta havia sido a única manifestação pública de Bolsonaro e entendida por parte de seus simpatizantes como sinal de aprovação. Mas os advogados agora dizem que o ex-presidente "repudiou" o quebra-quebra de 8 de janeiro.
"Em nenhum momento, o presidente Bolsonaro fez qualquer juízo de valor quanto ao conteúdo do vídeo. E o presidente reiterou no depoimento de hoje, recriminou todo e qualquer ato antidemocrático que visa gerar instabilidade na ordem democrática e isso está consignado no depoimento de hoje", disse Fábio Wajngarten.
Ele negaram também que o post tenha sido feito por Carlos Bolsonaro, que costumava cuidar das redes do pai. Em 10 de janeiro, Bolsonaro estava hospitalizado nos EUA.
"Bugaram"
O depoimento foi solicitado pelo (STF) Supremo Tribunal Federal a pedido da Procuradoria-Geral da República, que entendeu que Bolsonaro teria incitado o levante antidemocrático cometido pelos bolsonaristas.
Esta é a segunda vez que Bolsonaro vai visitar a PF para prestar esclarecimentos após deixar a presidência. O primeiro depoimento aconteceu no último dia 5 de abril, quando ele foi falar sobre o caso das joias sauditas.
As imagens de 8 de janeiro, que circularam por todo o mundo, tiveram consequências relevantes no cenário político, como o afastamento temporário do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB); a prisão do então secretário distrital de Segurança Pública, Anderson Torres; e a intervenção federal na segurança no DF, encerrada em 31 de janeiro.
De lá para cá, as investigações avançaram. Centenas de pessoas acusadas de financiamento ou envolvimento direto nos atos foram presas, em diversas partes do país. Além disso, documentos mostraram falhas na segurança e leniência de militares.
Desde os primeiros instantes, o bolsonarismo mostrou estar confuso sobre como agir em relação à quebradeira de 8 de janeiro. Entre parlamentares e aliados próximos do agora ex-presidente, houve aqueles que se manifestaram nas redes sociais apoiando as "manifestações", mas depois tiveram de recuar. Outros, porém, tentaram se esquivar desde os primeiros momentos.
Mesmo com as fartas evidências de que os principais envolvidos nos ataques (como financiadores ou executores) são apoiadores de Bolsonaro ou pessoas ligadas a ele, os parlamentares ligados ao ex-presidente adotaram uma narrativa paralela, reforçada pelo vídeo divulgado na última quarta-feira (19) pela CNN Brasil.
Apesar da confirmação da criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre os atos antidemocráticos, as investigações no âmbito da Justiça prosseguem. O Supremo já confirmou, por exemplo, que 100 bolsonaristas acusados de envolvimento se tornarão réus.
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