Favoritas ao título desfilam na Sapucaí no segundo dia do Grupo Especial do Rio

 Imperatriz, Beija-Flor e Viradouro são principais candidatas, diz especialista; Tuiuti, Portela e Vila também desfilam

Ensaio técnico da Beija-Flor: escola de Nilópolis está entre as favoritas no Carnaval 2023 no Rio - Divulgação

A história mostra: desde 1984, quando foi inaugurado o Sambódromo da Marquês de Sapucaí, as escolas que desfilam na segunda noite do carnaval carioca têm maior chance de levar o troféu: são 33 títulos para quem passou pela avenida na noite de encerramento, contra apenas oito de quem desfilou na noite de abertura. Em 2023 a chance de manutenção dessa tendência é boa.

Segundo o jornalista Luiz Gustavo Thomaz, especialista em desfiles de carnaval, as três escolas que fecham os desfiles nesta segunda-feira - pela ordem, Imperatriz Leopoldinense, Beija-Flor e Viradouro - são as mais cotadas para conquistar o carnaval. A briga está mais apertada que a de 2022.

"Vejo a disputa este ano mais equilibrada que ano passado, quando realmente a Grande Rio despontava como favorita e confirmou esse favoritismo com um belíssimo desfile, mas eu coloco três escolas, as últimas três de segunda-feira, como favoritas, um pouco a mais do que outras escolas, por todo o conjunto de fatores, seja ordem de desfile, seja questão financeira, poderio financeiro, seja equipe do carnaval", avalia Thomaz.

O favoritismo, claro, precisa ser confirmado na avenida. Além das mais cotadas apontadas por Thomaz, esta segunda-feira terá ainda as apresentações da Paraíso do Tuiuti, da Portela e da Vila Isabel. Confira os destaques dos enredos de cada uma delas.

O que vem por aí

Paraíso do Tuiuti

Quem abre a segunda noite de desfiles do carnaval carioca em 2023 é a Paraíso do Tuiuti. A escola vai ter a chegada dos búfalos à Ilha de Marajó no Século XIX como gancho para falar sobre a cultura do estado do Pará, com sua música, danças e culinária. Os animais fazem parte do cotidiano da ilha, e o rebanho é tão grande que chega à marca de dois bichos para cada pessoa. O samba conta, por exemplo, a lenda de que os animais estavam a caminho da Guiana Francesa, saindo da Índia, e a embarcação em que estavam naufragou. A tripulação humana teria morrido, mas os animais sobreviveram e prosperaram no local. "E nesse encontro entre o rio e o oceano, a grande ilha que cultiva o carimbó; dizem que bichos ainda falam com humanos há muitos anos na Ilha de Marajó", canta a escola em seu samba-enredo.

Portela

Maior campeã do carnaval carioca, a Portela promete fazer um desfile com grande apelo emocional para celebrar os 100 anos de fundação da própria escola. O enredo "O Azul que Vem do Infinito" vai contar essa história centenária sob os olhares de cinco baluartes da agremiação: Paulo da Portela, um dos fundadores; a primeira porta-bandeira, Tia Dodô; o presidente de honra Natal da Portela; o intérprete e compositor David Corrêa e o grande Monarco, um dos sambistas com maior identificação com a escola. "Ser Portela é tanto mais que nem cabe explicação, basta ouvir os baluartes pra chorar de emoção", diz a letra do samba. 

Vila Isabel

Cortejos, batuques, batizados nos terreiros, a disputa entre os bois Caprichoso e Garantido em Parintins (AM), festas juninas e o próprio carnaval: a Vila Isabel, terceira a desfilar na segunda-feira de carnaval na Sapucaí, vai apresentar o enredo "Nessa Festa, Eu Levo Fé", que vai falar sobre celebrações de origem religiosa, sem preconceito de crença: todas as religiões são bem vindas. Tricampeã do carnaval carioca, a escola busca um título que não vem há exatos dez anos, e conta com o premiado carnavalesco Paulo Barros, um dos grandes nomes da festa na Sapucaí neste século, com quatro títulos conquistados.

Imperatriz Leopoldinense

Tentando voltar aos tempos de glória após uma passagem pela Série Ouro (grupo de acesso), a escola oito vezes campeã vem com aquele que é considerado pelo jornalista Luiz Gustavo Thomaz "o enredo mais inventivo do ano". A escola vai contar o que aconteceu com Lampião após sua morte: foi recebido no céu? Ou no inferno? Com esse enredo, claro, a Imperatriz vai falar sobre a cultura e a música do nordeste. "É um enredo que promete muito, a escola vem mordida a poder disputar, porque ano passado basicamente a intenção era continuar no grupo Especial, por ser a escola que abria o carnaval", complementou o jornalista.

Beija-Flor

A multicampeã Beija-Flor, dona de 14 troféus, decretou uma nova data para a Independência do Brasil: é 2 de julho de 1823, quando as tropas portuguesas foram expulsas da Bahia. A data, inclusive, é feriado no estado nordestino, que estará representado no desfile. A disputa baiana contra os lusitanos contou com papel ativo da população local, incluindo negros escravizados e libertos, indígenas e caboclos. E vem daí o nome do enredo: "Brava Gente! O grito dos excluídos no bicentenário da Independência". E o Grito dos Excluídos e das Excluídas, que a cada 7 de setembro se reúne em diversas partes do país para dar voz aos invisibilizados vai se fazer presente na fase final da apresentação da escola de Nilópolis. "A partir desses 200 anos [da Independência baiana], todos os gritos, todas as revoltas, todos os movimentos populares se reúnem em um só no final. Esse é o grande mote do enredo", explicou Thomaz.

Viradouro

Vencedora do carnaval carioca em 1997 e 2020, a Viradouro tentará o terceiro título contando a história de Rosa Egipcíaca, personagem que teve uma vida cheia de reviravoltas: nascida onde hoje fica a República do Benim, na África, veio traficada para o Brasil ainda criança. Foi abusada sexualmente e se tornou meretriz; vendeu tudo o que tinha e doou o dinheiro aos pobres, se tornando uma liderança religiosa em Minas Gerais. Foi perseguida pela Igreja Católica e açoitada, tendo ficado com o lado direito do corpo paralisado nos últimos anos de vida como consequência das agressões. Seu livro "Sagrada Teologia do Amor Divino das Almas Peregrinas" é considerada a primeira obra escrita por uma mulher negra no Brasil - e foi considerado heresia pela igreja. "É uma personagem de uma história rica, triste, de muita fé, mas também muito pesada", resume Luiz Gustavo Thomaz. "A Viradouro não vai romantizar essa história, mas vai pegar muito esse lado da fé, esse lado da santa que foi aclamada pelo povo e não pela Igreja", complementa.

Ordem dos desfiles do carnaval carioca - Grupo Especial - Segunda-feira, 20 de fevereiro

22h – Paraíso do Tuiuti
Entre 23h e 23h10 – Portela
Entre 0h e 0h20 – Vila Isabel
Entre 1h e 1h30 – Imperatriz
Entre 2h e 2h40 – Beija-Flor
Entre 3h e 3h50 – Viradouro

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