Como os juros altos prejudicam do dono do mercadinho à indústria no Brasil

 Com a atual taxa de juros, como fica a política industrial?

Indústrias vêm perdendo participação no PIB. Desafio do atual governo é voltar a desenvolver o setor - Setor de Comunicação - Volkswagen

Felipe dos Santos Silva, o Pepe, há dois anos, no auge da pandemia, tornou-se dono do Mercado e Açougue Bom Jesus, microempreendimento que fica na Vila Formosa, no bairro Novo Mundo, em Curitiba.  

O mercado tem seis funcionários e buscou manter preços acessíveis para o público da vila onde fica. O início de 2023 trouxe a Pepe motivação com a possível mudança na política econômica brasileira. 

Pepe é um dos que estão ao lado de 76% da população que, de acordo com pesquisa da Genial/Quaest, concordam com as críticas de Lula ao Banco Central, sobre a manutenção da taxa de juros mais alta do mundo, a maior desde 2017, na casa de 13,75%. 

Além disso, Lula tem criticado a autonomia do BC para tomada de decisões e manutenção de um presidente avesso ao projeto político eleito pela população. Roberto Campos foi indicado por Bolsonaro seu mandato se estende até 2024. 

Pepe enxerga que a atual alta da taxa de juros limita o comércio e o aquecimento das vendas e também não contribui na redução do preço das mercadorias. “Não tem por que o Banco Central segurar a taxa de juros e até elevar, parece estar direcionando uma recessão econômica, é preciso debater essa autonomia do BC”, opina.

Desafios da indústria  

Caso haja manutenção da taxa de juros no patamar atual, a indústria brasileira deve seguir em situação complicada. Com o agravamento da crise, a indústria se encontra 3,5% abaixo do patamar anterior à pandemia, em fevereiro de 2020.

Além disso, o peso da indústria de transformação (que reúne todo o setor manufatureiro) encontrava-se em 11,30% de participação no PIB no 1º trimestre de 2021, de acordo com o IBGE. No melhor momento, em 1985, o peso do setor manufatureiro chegou a 24,5%, gerando mais postos de trabalho de qualidade. 

Sandro Silva, economista do Dieese-PR, aponta que o desafio atual seria a criação do que chama de política de industrialização. “Promovendo desenvolvimento do setor industrial, focando em setores com mais inovação tecnológica, que geram mais valor agregado. O que só não basta. É preciso indicadores macroeconômicos positivos”, afirma.  

Por isso, Silva e outros analistas concordam que os juros são uma barreira para o crescimento da economia nacional e, consequentemente, para uma política de industrialização. 

“Juros elevados impedem o crescimento econômico. Quem tem bastante dinheiro não investe em produção, mas no mercado financeiro, porque você tem garantia de rentabilidade muito superior à inflação e sem fazer esforço”, afirma Silva.

Produção parada  

Outro ponto abordado pelos economistas críticos às políticas do Banco Central é o fato de que a alta taxa de juros não ajuda a controlar a inflação, uma vez que a atual inflação não é de demanda, e sim dos preços das mercadorias. O que quer dizer que uma economia parada como a brasileira precisa de taxas baixas de juros, de crédito, de indução e investimento do Estado na economia.

O professor e economista Luiz Gonzaga Belluzo defende que a atual crise remete ao modelo adotado no país nos anos 90, e que agora apresenta condições para ser superado. De acordo com ele, o próprio setor rentista e financeiro está antevendo que o atual modelo é insustentável para a economia. “No bojo dessas mudanças, o maior temor dos bancos é de que haja uma crise de crédito, que já está sendo definida no horizonte, com muitas empresas endividadas, que não conseguem sanar suas dívidas, empresas pequenas, médias e grandes”, enumera. 

Belluzo também aposta na necessidade de uma política voltada à reindustrialização: “Reindustrializar significa apostar, capitanear as novas empresas, caminhar na direção dos setores de maior densidade tecnológica”, aponta. 

Por melhores dias  

Mesmo em meio a dificuldades, pequenos empresários como Pepe ainda apostam em melhorias. Vontade não falta para ver os trabalhadores podendo consumir mais. “Sabemos do viés social e da sensibilidade do atual presidente, encaramos isso como grande oportunidade para angariar o movimento do comércio e contribuir com a baixa dos preços, pagando mais barato, para que a população possa comer uma carne digna”, afirma. 

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