Coronel Paulo José nega responsabilidade em ato de 8/1 e diz que Casimiro mentiu em CPI da Câmara do DF
Paulo exibiu mensagem em que indaga se efetivo era suficiente; já Casimiro diz que Paulo deu ordem para abrir Esplanada
Apontado pelas investigações e por seus colegas como omisso na operação policial do 8 de janeiro, em Brasília, o coronel Paulo José Ferreira Souza Bezerra foi ouvido nesta quinta-feira (21), na CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Na ocasião, ele rebateu as acusações de outros depoentes e disse que o coronel Casimiro mentiu na CPI.
“O senhor [Paulo José] está chegando aqui hoje como o grande responsável por tudo o que aconteceu. Todo mundo que passou por aqui disse que a culpa é do senhor. O senhor terá a grande oportunidade de dizer de quem é a culpa”, afirmou logo no início da reunião o presidente da CPI, deputado Chico Vigilante (PT), que questionou se Paulo José deu a ordem para abrir a Esplanada, como disse em depoimento o coronel Casimiro. Paulo José está preso desde 18 de agosto.
“Eu nunca dei essa ordem ao coronel Casimiro. Só quem tem competência para dar essa ordem é o presidente da República ou o governador do DF e ele sabe disso. Ele mentiu aqui nesta CPI e eu me coloco à disposição para acareação”, assegurou o Paulo José, que era responsável pelo do Departamento de Operações (DOP), em 8 de janeiro.
O depoente ainda responsabilizou o coronel Casimiro por dizer que não era necessário o fortalecimento do efetivo na Esplanada. “Eu pergunto às 12h56 de domingo [8 de janeiro]: 'Casimiro, os efetivos aí são suficientes?' Ele fala: 'Por enquanto, são suficientes'”, narrou Paulo José em posse de um papel com as mensagens de celular, que segundo ele está com a Polícia Federal para investigação. “A competência era dele [Casemiro]”, argumentou Paulo José ao falar sobre a necessidade de envio de mais policiais para a Esplanada.
De acordo com Paulo José, no final de 2022 ele estava de férias e depois ficou de licença (sem trabalhar) e por isso não participou da operação para a posse do presidente Lula, em 1º de Janeiro. Ele disse ainda que estava com o porte de arma suspenso, por tratamento psiquiátrico.
Chico Vigilante disse que “fica parecendo” que os demais oficiais tentam jogar a responsabilidade para o coronel Paulo José, que por estar em tratamento psiquiátrico não seria responsabilizado. O depoente não confirmou essa hipótese.
Após meses de férias e afastamento, o coronel Paulo José foi chamado para assumir a subchefia do DOP, dias antes dos atos. O DOP era chefiado pelo coronel Jorge Eduardo Naime, que estava de folga no dia 8 de janeiro. Paulo José foi preso no dia 18 de agosto, junto com outros oficiais do alto-comando da PMDF, como os ex-comandantes Klepter Rosa e Fábio Augusto Vieira e os coronéis Casimiro e Naime.
Mensagens trocadas
O deputado Fábio Félix (PSOL) apresentou diversas mensagens trocadas pelo coronel Paulo José nos dias que antecederam o 8 de janeiro, na qual ele já estava do DOP. Uma das mensagens mais problemáticas foi uma troca de texto com o coronel Casimiro. No dia 7 de janeiro Paulo José encaminha uma mensagem golpista que recebeu e o Casimiro diz 'vai dar certo' e ele responde 'Rsrs. Vai sim'.
“E essas trocas de mensagens?” questiona Félix.
“Se o senhor olhar todo o contexto, todas as mensagens que mando para o coronel Casimiro. É mensagem de preocupação, mensagem da verificação da necessidade de colocar mais efetivo ou não. Agora, se ele fala que 'vai dar certo' eu entendo isso”, afirmou Paulo José. “E esse riso dá uma conotação um pouco lúdica para o cenário”, acrescentou Félix. “Do meu ponto de vista essa foi uma operação montada para funcionar. Uma operação omissiva”, avaliou o deputado.
O deputado Gabriel Magno (PT) apresentou outra troca de mensagens entre Paulo José e Casimiro, que confirma a versão do depoente sobre ter recebido a informação de que não era necessário aumentar o efetivo por volta das 13 horas do dia 8 de janeiro, quando os golpistas já estavam descendo rumo à Esplanada.
“Isso prova que o coronel Casimiro, que veio aqui, mentiu”, considerou Magno, acrescentando: “É uma crise que estamos vivendo, sem precedentes na história do DF. Diante dos fatos, só há uma conclusão: o comando da Polícia Militar não é confiável”.
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