Em CPI, indígena bolsonarista nega financiamento, mas é confrontado com vídeo de fazendeiro
Comissão da Câmara do DF também ouviu Armando Valentin Settin Lopes, que negou tudo o que declarou à Polícia Civil
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) ouviu, nesta quinta-feira (31), dois bolsonaristas que foram presos por envolvimento nos atos golpistas. O primeiro a ser ouvido foi o cacique José Acácio Serere Xavante, que está preso desde 12 de dezembro de 2022. O segundo foi o profissional autônomo Armando Valentin Settin Lopes de Andrade, preso após participar dos atos de 8 de janeiro.
O cacique Xavante, que se denominou como pastor missionário evangélico, também confirmou que é filiado ao Partido Patriota e afirmou que sua viagem a Brasília foi paga com recursos próprios. O cacique Serere, que é do Mato Grosso, disse que viajou a Brasília para se juntar ao acampamento golpista por conta própria.
“Ajuda não, cada um pagou a despesa”, afirmou o Cacique, sendo questionado pelo presidente da CPI, Chico Vigilante (PT), sobre supostas ajudas que ele teria recebido do fazendeiro Didi Pimenta, também do Mato Grosso, para a viagem e para se manter por mais de um mês na capital. O depoente disse que não conhecia o Didi Pimenta, mas a comissão transmitiu um vídeo em que o fazendeiro confirmava a proximidade e o financiamento da viagem.
“Fui procurado pelo meu amigo e cacique Serere, que queria ir pra Brasília, ajudar na manifestação. Há dez dias estamos conseguindo mandar eles pra lá e ajudá-los. Já mandamos, com ajuda de amigos, uns oito ônibus de índios”, disse Didi Pimenta no vídeo apresentado. O fazendeiro ainda afirmou que estava enviando transferência via pix direto para a conta do Cacique Serere e pediu para outros ajudarem no intuito de manter Bolsonaro no poder.
Diante das imagens, o presidente da CPI, Chico Vigilante, confrontou o depoente. “Ficou provado aqui que o senhor mentiu o tempo todo. Esse Pimenta conhece o senhor. Esse Pimenta é fazendeiro. E o senhor disse que não conhecia ele”, afirmou o parlamentar, destacando que serão tomadas providências em razão do Cacique Serere ter mentido durante a CPI.
“Tudo que eu falei é verdade. Ele pode até me conhecer, mas eu não o conheço não”, declarou Serere após ser contraditado com o vídeo.
O deputado Fábio Félix (PSOL) também apontou a contradição no depoimento da fala do cacique Serere e questionou o depoente sobre suas motivações e o quanto foi influenciado pelo discurso golpista pós-eleição.
“Como a gente chegou nesse caos golpista. Onde as pessoas se sentiam à vontade para cumprir ações criminosas, contra o Estado democrático de direito”, destacou o deputado, apontando a parte da fala do depoente em que disse que não acreditava nas urnas em razão de um documento ambíguo produzido pelo Ministério da Defesa no governo Bolsonaro.
Planejamento terrorista
O autônomo Armando Valentin Settin Lopes foi preso em flagrante após participar dos atos de 8 de janeiro e ficou quatro meses na prisão. No entanto, ele já estava sendo monitorado pela polícia em razão de uma denúncia anônima que o ligava com o planejamento para atos terroristas contra as estações de transmissão de energia do Distrito Federal.
No depoimento na CLDF, Lopes negou tal planejamento e disse que frequentava o acampamento golpista todos os dias por “ansiedade” e “ideologia”.
“Eu estava preocupado com o Brasil. Eu prezo pela igreja, pelos bons costumes. Eu fiquei com medo”, disse Lopes.
Armando Valentin Settin Lopes de Andrade foi preso em flagrante por participar dos atos do dia 8 de janeiro / Crédito: Eurico Eduardo / Agência CLDF
“Tinham pessoas incitando. Dando ideias. Pessoas extremistas”, afirmou o depoente, após ser questionado pelo deputado Fábio Félix se haviam pessoas incitando atos extremos como incendiar carros e a estação de energia de Brasília. No entanto, o depoente disse que essas pessoas eram de “esquerda” e foi repreendido pelo deputado: “como o senhor sabia se essas pessoas eram de esquerda? o senhor não pode ser leviano”.
“O próprio depoente afirmou, em depoimento à polícia, que havia pessoas incitando a desordem, tinham pessoas incitando ações extremas e violentas. Não provam. Não apresentam nenhum infiltrado. É papo de covarde”, destacou Fábio Félix, acrescentando que “querem se esconder atrás da religiosidade para praticar ações extremas e violentas”.
Ao final da sessão, o presidente da CPI, Chico Vigilante, informou que vai encaminhar um pedido à Polícia Civil pedindo que seja aberto inquérito para apurar o fato de Settin desmentir o depoimento que ele próprio havia prestado, para que sejam tomadas as medidas cabíveis.
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