CPMI do 8 de janeiro: Lawand escorrega e não consegue se desvencilhar de incitação ao golpe
Coronel alegou que pedidos a Bolsonaro em conversa com Cid seriam por uma "ordem de apaziguamento", mas não convenceu
O coronel do Exército Jean Lawand Junior escorregou nas respostas aos congressistas da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de janeiro, nesta terça-feira (27). Mesmo diante das mensagens trocadas com Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), Lawand tentou se desvincular de uma tentativa de golpe.
Nas conversas, o coronel pede para Cid convencer o ex-presidente a dar uma ordem de intervenção ao comando das Forças Armadas contra o resultado das eleições que consagrou Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como presidente. "Ele [Bolsonaro] não tem nada a perder. Ele vai ser preso e o pior: na Papuda", afirmou Lawand em uma das mensagens enviadas a Cid.
"Cidão, pelo amor de Deus, cara. Ele [Bolsonaro] dê a ordem que o povo tá com ele, cara. Se os caras não cumprir (sic), o problema é deles. Acaba o Exército Brasileiro se esses caras não cumprir a ordem do, do Comandante Supremo. Como é que eu vou aceitar uma ordem de um General, que não recebeu, que não aceitou a ordem do Comandante. Pelo amor de Deus, Cidão. Pelo amor de Deus, faz alguma coisa, cara. Convence ele a fazer", disse Lawand em um dos áudios enviados a Mauro Cid, em 30 de novembro de 2022, segundo transcrição da PF.
Em outro momento, Lawand afirma: "Se o EB [Exército Brasileiro] receber a ordem, cumpre prontamente. De modo próprio o EB nada vai fazer porque será visto como golpe. Então, está nas mãos do PR [presidente]". O coronel ainda disse que o país foi entregue "aos bandidos", em 21 de dezembro.
Aos congressistas, no entanto, o coronel afirmou que os pedidos feitos a Mauro Cid diziam respeito a uma "ordem de apaziguamento" diante das manifestações golpistas, e não a uma ordem de golpe de Estado. Mas as justificativas não foram suficientes para sustentar a versão diante das mensagens colhidas pela PF. "O senhor fica absolutamente desconfortável e tenta fazer explicações que não se asseguram, que não tem uma sustentação pratica", afirmou a relatora da CPMI, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA).
"O senhor não acha que a sua versão aqui é completamente incompatível com as suas mensagens? Não é possível que o senhor continue negando dessa forma. O senhor pode ficar em silêncio, mas mentir não pode. O senhor insistiu com Mauro Cid", destacou a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ).
Em determinado momento, o deputado Rafael Brito (MDB-AL) questiona quais crimes o coronel atribuiu a Bolsonaro ao dizer que o ex-presidente seria preso. Lawand, então, respondeu: "Ele poderia ser preso, mas não por esse, que é evitar que as pessoas dispersassem, e eu atribui a ele porque eram eleitores de Bolsonaro que estavam ali". Ao final, o deputado disse que "ao final e ao cabo, ele [Bolsonaro] foi omisso de não ter dado essa ordem de apaziguar".
A fala foi endossada pelo deputado federal Rogério Correia (PT-MT): "O senhor afirmou que Bolsonaro não deu ordem para apaziguar o país. Ou o senhor está querendo culpar Bolsonaro por tudo o que aconteceu, porque o presidente não deu a ordem de apaziguamento. O senhor está vendo que o peixe morre pela boca?".
Os senadores e deputados lembraram a fala do senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), ex-vice-presidente ao lado de Jair Bolsonaro, sobre o fim da carreira de Lawand após incitar um golpe. "Um coronel com carreira militar brilhante, foi comandante dos mísseis e foguetes em Formosa. Agora estava no Estado Maior numa função burocrática, designado para aquilo que é um dos prêmios que o Exército dá, para ser adjunto do adido militar nos Estados Unidos, dois anos em Washington, e agora está jogando isso pela latrina", disse Mourão ao site Metrópoles na semana passada.
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