Lula x Bolsonaro: pesquisa Quaest evidencia novos elementos do jogo político

 Além de boas notícias para o governo, pesquisa traz pistas sobre o papel da comunicação na disputa com a extrema direita

Resultados econ^pmicos impulsionam melhora da avaliação de Lula - Agência Brasil

A pesquisa Quaest divulgada nesta quarta-feira (21) traz boas notícias para o governo Lula, mas também pistas sobre como o cenário político no Brasil mudou nos últimos anos. Em relação à última sondagem, divulgada em abril, o patamar de quem aprova a gestão petista subiu de 51% para 56%, muito em função da melhora na percepção sobre a economia no país.

"Investigamos ainda as expectativas sobre desemprego, inflação e o poder de compra das pessoas. Nos três casos o resultado é o mesmo: otimismo voltou! Mais gente acredita que o desemprego e a inflação vão cair e o poder de compra vai aumentar", disse, em seu perfil no Twitter, o diretor da Quaest e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Felipe Nunes.

Não chega a ser novidade na ciência política o fato de as condições econômicas, que têm efeitos concretos na vida das pessoas, influenciarem no humor da população. É comumente resgatada a frase do economista e marqueteiro estadunidense James Carville, que criou a máxima "É a economia, estúpido!", usada adiante para justificar e explicar a vitória de Bill Clinton contra George Bush pai. O republicano tentava a reeleição em meio a uma crise econômica vivida no fim de seu primeiro (e único) mandato.

Contudo, de lá pra cá a forma de se fazer e de enxergar a política mudou. No Brasil, mas não só, temos um desparecimento de algo que se poderia chamar de "centro", que na prática muitas vezes era simplesmente direita, e a consolidação de um núcleo sólido representando o extremismo.

As redes

No levantamento da Quaest, quando as pessoas eram perguntadas sobre como se informam a respeito de política em julho de 2022, 47% diziam fazê-lo pela TV, percentual que foi caindo e hoje é de 37%, enquanto os que afirmam se informar por redes sociais chegam a 28%. No segmento entre 16 e 34 anos, há uma inversão: 41% se informam pelas redes e 26% pela televisão.

E é interessante ver como essa clivagem informativa no noticiário político divide os eleitores dos dois presidenciáveis que chegaram ao segundo turno em 2022. Entre os lulistas, 47% se informam pela TV e 22% pelas redes sociais, enquanto 37% dos bolsonaristas dizem se informar pelas redes sociais e 29% pela televisão.

O tamanho da influência das redes também se nota na avaliação geral do governo Lula, já que sua aprovação alcança seu maior índice no segmento de quem se informa sobre política prioritariamente pela TV (46%). O percentual cai para 26% em meio àqueles que preferem as redes sociais.

Isso reflete a influência das plataformas sociais, cujos algoritmos já sabemos a que tipo de discurso favorecem. Tanto que os percentuais de entrevistados que dizem ter tido contato com notícias positivas ou negativas sobre a gestão Lula estão em situação de empate técnico: 33%, no primeiro caso, e 31% no segundo.

Cobertura enviesada e fake news

Quando se pergunta a respeito do noticiário negativo, 10% dos entrevistados afirmaram que o "encontro com Maduro" foi a pior notícia com que teriam tido contato. Aqui se trata de um casamento que por muitas vezes ocorre entre a cobertura da mídia tradicional e as redes bolsonaristas, potencializando ainda mais, nesse caso, não uma fake news, mas um fato que foi tratado de forma pouco responsável do ponto de vista jornalístico por muitos veículos.

Já 2% dos entrevistados citam "auxílio-reclusão", referência a um boato que circulou com força nas redes em janeiro e também em março, sobre um aumento do benefício que nunca existiu que o colocaria com valor acima do salário mínimo. Embora o percentual pareça baixo, é a a terceira notícia negativa mais citada no levantamento.

O novo ecossistema informacional e as formas com que as pessoal se relacionam com a política fazem com que o jogo fique muito mais turvo e a arena da comunicação se torna ainda mais crucial não apenas no período eleitoral, mas o tempo todo. E também já passou da hora de as grandes plataformas deixarem de se esconder atrás de um suposto véu de "liberdade" para justificar sua omissão diante da permissividade com conteúdos extremistas.

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