Rio São Francisco tem a maior cheia dos últimos 13 anos e pesca na região é afetada
A atual vazão de 4.000m³/s foi medida pela última vez em 2009; água invadiu casas e dificulta a pesca artesanal
Uma operação especial da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) provocou um aumento da vazão do Velho Chico para o controle das águas nos reservatórios e tem provocado alagamentos em diversas cidades do Nordeste.
Por causa deste aumento, que começou no dia 12 de janeiro, o rio chegou esta semana ao maior nível em seu curso natural nos últimos 13 anos com 4.000m³/s, no trecho que atravessa o Nordeste, a partir da barragem de Sobradinho, na Bahia.
O Rio São Francisco hoje possui 4 usinas hidroelétricas - Três Marias, Sobradinho, Luís Gonzaga/Itaparica e Xingó - e o Complexo de Paulo Afonso no curso entre Minas Gerais e Pernambuco.
Estudiosos, como o ambientalista Victor Flores, que integra o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, atribuem esta cheia do Rio São Francisco às chuvas que atingiram Minas Gerais no final de 2021. "Essas chuvas são principalmente na região de Minas Gerais, que chegam à barragem de Três Marias".
Viktor explica que "hoje Três Marias está chegando a 92% da sua capacidade e, nesse período, funciona a barragem como uma caixa d'água sem bóia: o que entra tem que sair por medida de segurança. Então, o que aconteceu agora foi para preparar a Barragem de Sobradinho, pra que ele possa receber esse volume de água que vem do período úmido".
Esta vazão representa um aumento de 80 centímetros no nível das águas, o que pode parecer pouco, mas representa fortes mudanças na vida de quem mora e trabalha às margens do rio.
Lailson Evangelista que é pescador a mais de 40 anos e pesca próximo ao estuário do rio tem sentido impactos no seu trabalho com o aumento da vazão. “O peixe diminuiu muito, é isso que está acontecendo esses dias. Devido essa água doce que é turva no mar, ela fica barrenta e provoca uma poeira na rede. A rede de cristalina fica amarela e, por incrível que pareça, o peixe não passa por ali”, afirma o pescador, que destaca “é preocupante para a pesca, é preocupante até para as enchentes e os ribeirinhos".
O aumento da vazão deixou em alerta 33 municípios de Sergipe, Alagoas, Bahia e Pernambuco. Mas, para o ambientalista Victor Flores, isso destaca uma consequência do aumento da ocupação das margens do velho chico nos últimos anos.
“Na verdade, o que a gente fez foi meio que se acostumar com uma crise hídrica e ocupamos a calha do rio. O rio está dentro da sua calha, não está afetando de fato, não está avançando na cidade. Mas, infelizmente, alguns desses problemas podem afetar as pessoas mais vulneráveis, por isso as políticas públicas tem que ser direcionadas para que se evite a ocupação nessas áreas”, ressalta.
Segundo informações da Chesf, a vazão deve seguir em 4.000m³/s até o dia 1º de fevereiro, quando haverá nova divulgação. A companhia não afasta a hipótese de ter de praticar vazão ainda maior no decorrer do atual período úmido, que vai até abril, a depender das chuvas na bacia do Velho Chico.
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