Mais de 120 mil palestinos deixaram suas casas em Gaza desde sábado; ofensiva israelense deve aumentar
Governo israelense respondeu à ofensiva do Hamas com mais de 500 ataques aéreos contra a Faixa de Gaza
Desde a madrugada do último sábado (7), quando o grupo Hamas realizou uma série de ofensivas contra Israel, cerca de 123 mil pessoas tiveram que deixar suas casas na Faixa de Gaza, de acordo com levantamento da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado nesta segunda-feira (9). Cerca de 70 mil palestinos buscam refúgio em escolas, seja porque suas residências foram destruídas, ou temor de que elas ainda vão ser, devido à ofensiva militar israelense.
A campanha militar no território ocupado deve escalar. Os EUA anunciaram na segunda-feira (9) que estão enviando diversos navios e aviões de combate para ajudar seu aliado Israel.
As ofensivas do Hamas foram justificadas como resposta ao aumento da violência contra o povo palestino, à proposta de anexação de partes da Cisjordânia e aos ataques contra a Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém. O local é considerado sagrado pelos muçulmanos e tem sido alvo de ações violentas da polícia israelense e de fundamentalistas religiosos judeus.
Segundo um alto comandante militar do Hamas, 5 mil foguetes foram lançados contra Israel. A ação vem sendo considerada a maior ofensiva do grupo contra Israel em décadas. O presidente palestino, Mahmoud Abbas, afirmou que o povo tem o direito de se defender contra o “terror dos colonos e das tropas de ocupação”.
Além dos ataques com mísseis, militantes do Hamas invadiram o território de Israel em diversos pontos e prenderam integrantes do Alto Comando do Exército do país. Em resposta, o governo israelense fez ataques em dois campos de refugiados na Palestina e em outros pontos do território.
Também nesta segunda-feira (9), Israel anunciou um cerco total à Faixa de Gaza. "Nem eletricidade, nem comida, nem água, nem gás. Tudo bloqueado", disse o ministro israelense da Defesa, Yoav Gallant, referindo-se aos palestinos. "Estamos lutando contra animais humanos e agindo de acordo", continuou o primeiro-ministro da extrema direita, Benjamin Netanyahu.
Somente de sábado para domingo, o governo Netanyahu realizou cerca de 500 ataques aéreos e de artilharia. Desde o início do último conflito, aproximadamente 1.200 pessoas morreram, sendo 700 em solo israelita e 560 na Faixa de Gaza. Autoridades palestinas dizem que 91 crianças foram mortas e quase 3 mil, feridas.
O que o Hamas diz?
O Hamas declara que a ação militar, batizada de operação “Tempestade de Al-Aqsa”, “é uma vitória para a justiça da causa palestina e para o direito do povo palestino à liberdade, à dignidade, à libertação e ao regresso às suas terras de onde foram deslocados à força, e adotando a narrativa palestina, em defesa do povo palestino e seus lugares sagrados”.
O grupo afirmou ainda que a prioridade da operação é proteger Jerusalém e Al-Aqsa e “impedir os planos da ocupação que visam judaizá-los e construir o seu alegado templo sobre as ruínas da primeira qibla (direcionamento das orações) dos muçulmanos”. O grupo também reivindica a libertação dos prisioneiros palestinos de Israel e convoca outras nações árabes a apoiar o levante.
“Enfatizando que esta batalha é a batalha da nação árabe e islâmica, pois o povo palestino defende o arabismo de Jerusalém e o islamismo da mesquita de Al-Aqsa, e isso requer a vitória por todos os meios disponíveis, através de manifestações nas capitais árabes e islâmicas e fornecendo todas as ferramentas de apoio à firmeza do nosso povo palestino e à sua valente posição”, diz.
“Os países árabes e islâmicos têm a responsabilidade direta de se oporem à ocupação e exigirem o seu fim, e de trabalharem para apoiar o povo palestino política, diplomática e financeiramente, de todas as formas, e em todos os fóruns e organizações internacionais”, complementa.
Escalada de Israel contra os palestinos
Nos últimos tempos, Israel havia aumentado a ofensiva contra o povo palestino. Em junho deste ano, as forças de segurança de Israel invadiram a cidade de Jenin, no norte da Cisjordânia, alegando buscar terroristas que estariam planejando ataques contra colonos judeus na Cisjordânia.
A ação com helicópteros e blindados resultou na morte de pelo menos cinco palestinos, incluindo uma criança, e feriu outras 91 pessoas. A ação também gerou uma fuga em massa de famílias do campo de refugiados do território.
Em comunicado, a Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina no Oriente Médio (UNRWA, na sigla em inglês) destacou que militares israelenses cercaram e atacaram o campo de refugiados. Como consequência, "danos severos" à infraestrutura do local foram causados, prejudicando o sistema de água e de energia elétrica.
Na ocasião, o ministro palestino de Assuntos Civis, Hussein al-Sheikh, disse que uma "guerra feroz e aberta está sendo travada contra o povo palestino pelas forças de ocupação", em entrevista à BBC. Na mesma linha, a porta-voz da agência de Ajuda Humanitária da ONU, Vanessa Huguenin, disse que a comunidade internacional estava “alarmada” com a “escala das operações aéreas e terrestres que estão ocorrendo em Jenin, na Cisjordânia ocupada, e com os ataques aéreos atingindo um campo de refugiados densamente povoado".
Segundo a ONG Human Rights Watch (HRW), que diz ter obtido os detalhes a partir de conversas com testemunhas e filmagens de câmeras de segurança, as forças israelenses já tinham matado pelo menos 34 crianças palestinas neste ano, até o dia 22 de agosto. Ou seja, em menos de oito meses transcorridos de 2023, o patamar fatal já é igual ao de 2022, que havia sido o ano mais letal para crianças palestinas em 15 anos.
Uma organização israelense, chamada Yesh Din, informa que de 2017 a 2021, menos de 1% das reclamações de violações por parte de forças israelenses contra palestinos resultaram em indiciamento. No mesmo período, foram mortos ao menos 614 palestinos classificados pela ONU como civis na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. Mas apenas três soldados foram condenados, segundo a mesma ONG, e todos receberam penas leves, que foram trocadas por serviços comunitários.
O jornal israelense Haaretz informou, em janeiro último, que, desde dezembro de 2021, os soldados israelenses estão autorizados a atirar em palestinos que estejam em fuga se eles já tiverem, previamente, atirado pedras ou coquetéis molotov.
Desde 2007, quando o Hamas assumiu o controle em Gaza, após vencer as eleições no ano anterior, um bloqueio foi imposto ao território por parte do governo israelense. Não apenas os palestinos, mas também o Egito, que compartilha uma fronteira com a região, está envolvido nessa restrição. O cerco dificulta a circulação de pessoas e a importação de itens essenciais, como medicamentos e alimentos.
Hoje, a ideia de anexação é proposta pelo governo de extrema direita de Benjamin Netanyahu, e contou com o apoio do ex-presidente do Estados Unidos Donald Trump. A iniciativa prevê a apropriação por parte de Israel de 30% das colônias e territórios palestinos no Vale do Jordão, localizado a 50 quilômetros de Gaza, assim como a criação de um Estado Palestino restrito às áreas restantes. A proposta tem sido rechaçada pela comunidade internacional.
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