Desespero em Gaza: população tenta se proteger após ultimato de Israel
Famílias buscam hospitais para se abrigar ou tentam ir para o sul, mas ONU diz que evacuação em massa é impossível
As horas seguintes ao prazo de 24 horas dado pelo governo de Israel para evacuação da região norte da Faixa de Gaza foram de caos. Na manhã desta sexta-feira (13), o exército israelense informou à Organização das Nações Unidas (ONU) que as famílias deveriam deixar o local, indicando invasão por terra. O prazo se encerrou às 18h (horário de Brasília, 0h00 de sábado, horário local), mas o governo de Israel sinalizou que a invasão ao território palestino pode demorar mais para começar.
Logo depois do aviso inicial, grupos inteiros passaram a ser vistos nas ruas e estradas tentando uma saída. Com malas, trouxas, colchões e até animais, as pessoas se deslocam em veículos motorizados em péssimas condições, carroças, bicicletas e a pé.
“Esqueça a comida, esqueça a eletricidade, esqueça o combustível. A única preocupação agora é se você vai conseguir, se vai sobreviver”, disse Nebal Farsakh, porta-voz do Crescente Vermelho, braço da Cruz Vermelha nos países muçulmanos à rede de notícias Al Jazeera. Segundo a agência, ele estava aos prantos na mensagem.
Por outro lado, muita gente decidiu continuar em casa, “se vamos morrer aqui, vamos morrer em nossas casas. Vamos morrer no norte ou no sul. Vamos morrer com a cabeça erguida, permanecendo em nossas terras, defendendo nossos direitos e mantendo-nos firmes em nossa fé.” afirmou Mansour Shouman, também residente da região, à Al Jazeera.
O Ministério da Saúde da Palestina informou que é impossível esvaziar os hospitais. “Não podemos deixar os doentes e feridos para trás”, disse o porta-voz da pasta, Ashraf al-Qidra. Segundo a organização Médicos sem Fronteiras o deslocamento de pacientes permanece complicado.
ONU reage
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, apelou para que Israel evite uma catástrofe humanitária. “Transferir mais de 1 milhão de pessoas através de uma zona de guerra densamente povoada para um local sem comida, água ou alojamento, quando todo o território está sob cerco, é extremamente perigoso e, em alguns casos, simplesmente impossível”, disse ele.
A relatora especial da ONU para os direitos humanos de refugiados internos, Paula Gaviria Betancur, também ressaltou que o deslocamento é inconcebível. “As transferências forçadas de populações constituem um crime contra a humanidade e a punição coletiva é proibida pelo direito humanitário internacional”, divulgou ela em um comunicado.
“Estamos horrorizados com a perspectiva de mais um milhão de palestinos se juntarem às mais de 423 mil pessoas já expulsas à força das suas casas pela violência da semana passada. É inconcebível que mais de metade da população de Gaza possa atravessar uma zona de guerra sem consequências humanitárias devastadoras, especialmente enquanto estiver privada de abastecimentos essenciais e serviços básicos”, alertou.
A agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para os refugiados palestinos informou que não vai esvaziar escolas que estão sob cuidados da entidade internacional e onde centenas de milhares de pessoas se abrigam. Mas transferiu sua sede para o sul.
Israel e Hamas
Mais cedo, o porta-voz militar israelense, Daniel Hagari, havia sido perguntado por jornalistas se hospitais e abrigos das Organizações Unidas seriam protegidos em caso de ataques. Ele respondeu que os militares manteriam os civis seguros tanto quanto possível, mas alertou, “É uma zona de guerra.”
O Hamas recusou o aviso de evacuação israelense , “Resistiremos à tentativa de Israel de limpar étnicamente Gaza. Israel declarou publicamente o seu plano de cometer genocídio contra os palestinos”, declarou Izzat al-Risheq, membro do gabinete político do Hamas.
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