Quem é Walter Delgatti, o hacker que liga Bolsonaro e Zambelli a tentativa de atacar processo eleitoral
Delgatti depõe nesta quinta (10) na CPMI; hacker diz que encontrou Bolsonaro para tratar de possível invasão às urnas
O hacker de Araraquara, Walter Delgatti Neto, que invadiu telefones de membros da Operação Lava Jato, presta depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que apura os atos golpistas de 8 de janeiro, nesta quinta-feira (17).
Em 2 de agosto, Delgatti e a deputada federal bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP) foram alvos de mandados de busca e apreensão da Polícia Federal (PF) por supostamente participarem de um esquema de inserção de alvarás digitais falsos de soltura e mandados de prisão no Banco Nacional de Monitoramento de Prisões do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Neste dia, Delgatti Neto foi preso.
Um desses mandados incluía o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Alexandre de Moraes. No ofício incluído no sistema, estava escrito "faz o L", em referência ao slogan de campanha eleitoral de 2022 do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Determino, por fim, a extração integral de cópias e sua imediata remessa para o Inquérito n. 4.874/DF e de todos os inquéritos de censura e perseguição política, em curso no Supremo Tribunal Federal para o CNJ, a fim de que me punam exemplarmente. Diante de todo o exposto, expeçase o competente mandado de prisão em desfavor de mim mesmo, Alexandre de Moraes. Publique-se, intime-se e faz o L", diz o ofício falso que era assinado por Moraes, contra si mesmo.
Confessou em depoimento à PF
Em 27 de junho deste ano, Delgatti confessou à PF a sua participação em parte do esquema. O hacker afirmou que o objetivo da invasão era expor as vulnerabilidades do sistema judiciário brasileiro, com o propósito de desacreditar o sistema eletrônico de votação.
Segundo Delgatti, Zambelli solicitou que, caso não conseguisse invadir as urnas eletrônicas, o hacker deveria procurar por "diálogos comprometedores" envolvendo Alexandre de Moraes. Em resposta, Delgatti afirmou que seria possível inserir um mandado de prisão contra o ministro no sistema do CNJ.
Ainda de acordo com o hacker, Zambelli fez o texto e enviou para publicação. Delgatti alegou que "fez algumas alterações, pois o português estava meio ruim, e emitiu o mandado de prisão e o bloqueio de valores, no exato valor da multa aplicada ao PL" pelo TSE, de cerca de R$ 22 milhões.
De acordo com a PF, "os crimes apurados ocorreram entre os dias 4 e 6 de janeiro de 2023 [dois dias antes dos atos golpistas], quando teriam sido inseridos no sistema do CNJ e, possivelmente, de outros tribunais do Brasil, 11 alvarás de soltura de indivíduos presos por motivos diversos e um mandado de prisão falso em desfavor do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes". Os fatos investigados "configuram, em tese, os crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica", diz a PF.
Encontro entre Bolsonaro e Walter Delgatti Neto
O esquema se soma ao suposto encontro entre Delgatti e Jair Bolsonaro (PL), em 10 de agosto do ano passado, que teria sido intermediado por Carla Zambelli. Na ocasião, segundo Delgatti, o ex-presidente perguntou se "munido do código-fonte, conseguiria invadir a urna eletrônica".
"A Deputada Carla Zambelli esteve envolvida nos atos do declarante, sendo que o declarante, conforme saiu em reportagem, encontrou o ex-presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Alvorada, tendo o mesmo lhe perguntado se o declarante, munido do código fonte, conseguiria invadir a urna eletrônica, mas isso não foi adiante, pois o acesso que foi dado pelo TSE foi apenas na sede do Tribunal, e o declarante não poderia ir até lá, sendo que tudo que foi colocado no Relatório das Forças Armadas foi com base em explicações do declarante", diz o relatório da PF.
Após o encontro com Delgatti, Bolsonaro seguiu para o Encontro Nacional do Agro, onde fez uma de suas declarações contra o sistema eleitoral, segundo apuração da revista Veja. "Nós temos mais que o dever, o direito de aperfeiçoar as instituições, desconfiar, debater. Que pipoca de democracia é essa que estão atacando? Nós queremos transparência, queremos a verdade, queremos terminar as eleições sem quaisquer desconfianças, seja qual for o lado", disse.
O encontro, que também contou com a participação de Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, teria como objetivo envolver o hacker nos ataques de Bolsonaro contra as urnas eletrônicas. Na época, o então chefe do Planalto já fazia frequentes ataques ao sistema eleitoral na tentativa de desacreditar o processo eleitoral.
No início deste ano, Zambelli afirmou, em entrevista à Folha de S. Paulo, que o encontro com Bolsonaro tratou sobre "a fragilidade das urnas" e que o hacker estava se dispondo a se reunir com o ex-presidente para se "redimir da culpa que tinha pelo Lula estar concorrendo", uma vez que o vazamento de mensagens ajudou a anular as condenações de Lula no STF.
Vaza jato
Delgatti Neto foi responsável pelo vazamento das mensagens trocadas entre membros da Operação Lava Jato, como o então procurador Deltan Dallagnol e Sergio Moro, juiz da operação em Curitiba. As mensagens divulgadas revelaram uma colaboração conjunta entre os procuradores e Moro nos casos envolvendo o ex-presidente Lula. O conteúdo desempenhou um papel crucial nos julgamentos conduzidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que resultaram na declaração da suspeição de Moro nas condenações de Lula.
Em julho de 2019, Delgatti já havia sido preso pela Polícia Federal no âmbito Operação Spoofing, que apurou as invasões. Na época, ele também foi expulso do DEM, partido que deu origem ao União Brasil em fusão com o PSL de Bolsonaro.
Em setembro de 2020, o hacker foi solto para responder ao processo em liberdade, ficando, contudo, sujeito a algumas restrições, incluindo o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de acesso à internet.
Em junho deste ano, Delgatti foi novamente detido por desrespeitar as medidas judiciais. Ele admitiu à PF que estava administrando as redes sociais e o site de Zambelli, violando as condições de sua liberdade provisória. A PF, inclusive, chegou a encontrar pagamentos de dois assessores da deputada destinados a Delgatti. Em 10 de julho, a Justiça autorizou mais uma vez a sua soltura, porém ele voltou a ser monitorado por meio de tornozeleira eletrônica.
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