Hacker chama Moro de 'criminoso contumaz' após relembrar mensagens da Vaza Jato na CPMI do 8 de Janeiro
Delgatti foi responsável por vazar mensagens trocadas entre Moro e Deltan Dallagnol
O hacker Walter Delgatti Neto chamou o senador Sergio Moro (União-PR) de "criminoso contumaz" após o ex-juiz de Curitiba apontar para processos na Justiça contra Delgatti, durante depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), que apura os atos golpistas de 8 de janeiro, nesta quinta-feira (17).
Delgatti Neto foi responsável pelo vazamento das mensagens trocadas entre membros da Operação Lava Jato, como o então procurador Deltan Dallagnol e Sergio Moro. As mensagens divulgadas revelaram uma colaboração conjunta entre os procuradores e Moro nos casos envolvendo o ex-presidente Lula (PT). O conteúdo desempenhou um papel crucial nos julgamentos conduzidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que resultaram na declaração da suspeição de Moro nas condenações de Lula.
No depoimento desta quinta-feira (17), a tensão entre Moro e Delgatti escalou. O ex-juiz citou condenações contra o hacker pelo crime de estelionato, que teriam sido cometidos em Araraquara (SP). "Relembrando que eu fui vítima de uma perseguição em Araraquara, inclusive, equiparada à perseguição que vossa excelência fez com o presidente Lula e integrantes do PT", respondeu o hacker a Moro.
"Li a parte privada e posso dizer que o senhor é um criminoso contumaz, cometeu diversas irregularidades e crimes", disse na sequência. Ao ser advertido pelo presidente da CPMI, o deputado Arthur Maia (União Brasil-BA), pelos termos utilizados, Delgatti pediu "escusas", expressão frequentemente utilizada por Moro.
"Bandido aqui, desculpe senhor Walter, que foi preso é o senhor. O senhor foi condenado. O senhor é inocente como o presidente Lula, então?", perguntou o senador. "O senhor não foi preso porque recorreu à prerrogativa de foro por função", respondeu o hacker.
Posteriormente, Sergio Moro afirmou que Walter Delgatti teria invadido aplicativos de mensagens de mais de 170 pessoas, incluindo políticos como os senadores Cid Gomes (PDT-CE) e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) e os deputados Baleia Rossi (MDB-SP) e Flávio Bolsonaro (PL-RJ). "Inclusive, cheguei às conversas do senhor com o então procurador Dallagnol e essas conversas foram chanceladas pelo STF e são utilizadas até hoje para anular condenações de pessoas inocentes", afirmou Delgatti logo após a informação trazida por Moro.
Tentativa de fraudar eleições
Durante o depoimento, Delgatti deu declarações que podem levar ao indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no relatório final que será apresentado pela CPMI. De acordo com a relatora da comissão, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), afirmou que as informações colhidas até o momento dão "fortes condições de indiciar Jair Bolsonaro. Não há dúvida que partiremos para o indiciamento".
Aos parlamentares, o hacker Walter Delgatti Neto afirmou que o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira facilitou o acesso à sede da pasta, em Brasília, e aos funcionários especialistas em tecnologia da informação para tentar criar um código-fonte falso das urnas eletrônicas a fim de fraudar as eleições presidenciais de 2022.
A ponte entre Paulo Sérgio Nogueira e Walter Delgatti Neto teria sido feita pelo próprio ex-presidente Jair Bolsonaro após uma reunião no Palácio do Alvorada, que teria ocorrido em 10 de agosto do ano passado. Na ocasião, segundo o hacker, estavam presentes Bolsonaro, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e o assessor da Presidência Marcelo Câmara.
"A conversa foi bem técnica até que o presidente me disse: a parte técnica eu não entendo, vou te enviar para o Ministério da Defesa, por meio do general Marcelo Câmara, e lá você explica, a despeito da resistência de Marcelo Câmara em levá-lo", disse Walter Delgatti Neto aos parlamentares da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), que apura os atos golpistas de 8 de janeiro, nesta quinta-feira (17).
"Ele me disse que eu estaria salvando o Brasil. Nisso essa conversa foi evoluindo e chegou na parte técnica. Recebi garantia de proteção, receberia um indulto do presidente. Com as cautelares de proibição de acessar a internet que eu tinha, foi oferecido esse indulto."
No total, o hacker afirmou que foi ao Ministério da Defesa cinco vezes em encontros com o ex-ministro Paulo Sérgio Nogueira e com o pessoal de tecnologia de informação. "Eles iam até o TSE [Tribunal Superior Eleitoral] e me passavam o que viam. Eles meio que iam decorando o que viam do código e me passavam, e eu ia passando orientações", detalhou.
Grampo contra Moraes
O hacker Walter Delgatti Neto também afirmou que Jair Bolsonaro pediu que ele assumisse um grampo que teria sido feito contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), durante uma ligação mediada pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).
"O presidente entrou em contato comigo por meio de um celular aparentemente novo, com um chip inserido naquela hora. Eles haviam conseguido um grampo do ministro Alexandre de Moraes, que teria conversas comprometedoras, e eles precisavam que eu assumisse a autoria desse grampo", disse.
A ligação teria ocorrido em um posto de gasolina, próximo a Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Pouco antes, Zambelli teria ligado para Walter Delgatti Neto e falou que precisava tratar de um assunto urgente. Logo depois, um motorista da parlamentar teria buscado o hacker para levá-lo até o local.
"Esse grampo seria suficiente para uma ação contra o ministro e refazer as eleições. Eu concordei em assumir porque era uma proposta do presidente da República. Depois a Carla Zambelli disse que seria necessário invadir alguns sistemas de Justiça para demonstrar a fragilidade dos sistemas, a pedido de Bolsonaro", disse Delgatti.
Foi neste momento que o hacker teria feito a inserção de alvarás de soltura e um mandado de prisão contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes no Banco Nacional de Monitoramento de Prisões do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). As inserções foram feitas entre 4 e 6 de janeiro deste ano, dias antes dos atos que culminaram na invasão e depredação dos prédios dos Três Poderes, em Brasília.
Delgatti foi preso em 2 de agosto devido às investigações sobre as invasões do sistema do CNJ. Os fatos investigados, segundo a PF, "configuram, em tese, os crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica".
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