Advogado de Mauro Cid afirma que dinheiro da venda de relógio foi entregue 'para Bolsonaro ou para a primeira-dama'

 Confrontado, Bolsonaro responde e afirma que ex-subordinado 'tinha autonomia'

Advogado Cezar Bitencourt falou ao vivo com a 'Globonews' na tarde desta sexta-feira (18) - Reprodução
O advogado Cezar Bitencourt, que representa o tenente-coronel Mauro Cid, disse que o militar entregou para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ou para a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, dinheiro referente à venda de um relógio Rolex, avaliado em US$ 51 mil (cerca de R$ 253 mil) recebido como presente enviado pela Arábia Saudita ao então presidente brasileiro – item que deveria ser incorporado ao acervo da presidência da República.

Em mais um capítulo da trama sobre as joias e outros presentes dados ao Estado brasileiro que Bolsonaro tratou como itens pessoais, Bitencourt concedeu entrevista nesta sexta-feira (18) ao canal de televisão por assinatura Globonews. Durante a conversa com jornalistas, ele se contradisse em alguns momentos, mas foi incisivo ao afirmar que o dinheiro chegou à família que ocupou o Palácio do Planalto até a virada do ano.

"[O dinheiro] foi para Bolsonaro ou para a primeira-dama. Para eles, né?! Não tinha outra forma de fazer as coisas. Se eu executo a venda para alguém, para meu chefe, de alguma coisa que lhe pertence, eu tenho que prestar contas. Eu chego 'olha, o resultado está aqui'. Foi isso que aconteceu", disse o advogado, ao ser perguntado se o dinheiro foi entregue por Cid a Bolsonaro.

Bolsonaro responde

Bolsonaro, que está em Abadiânia (GO), foi perguntado sobre o caso por um repórter do Estado de S. Paulo. Na entrevista, que foi gravada em vídeo e publicada pelo jornal, ele negou que tenha orientado Mauro Cid a vender o relógio. "Ele tem autonomia. Eu não ia mandar ninguém vender nada", disse.

O presidente ainda insistiu na tese de que presentes como joias e relógios são "personalíssimos", ou seja, pertencem ao presidente, e não ao Estado brasileiro. Porém, foi lembrado pelo repórter que uma portaria publicada em 2021 (portanto, durante o período em que ele estava na presidência) revogava esse entendimento.

"Meu governo revogou a portaria. Se eu tivesse intenções outras, não teria revogado, teria preocupação com essa portaria", disse o hoje inelegível. "Em uma viagem, por exemplo, a imprensa falou muito, 'o escalão nosso', 20, 25 pessoas receberam relógios do chefe daquele país. 'Devolve, não devolve?', foi decidido que ficavam com essas pessoas", completou, sem especificar sobre qual viagem falava.

Dinheiro em espécie

Ainda durante a entrevista à Globonews, o advogado Cezar Bitencourt afirmou que o dinheiro referente à venda do Rolex foi entregue em espécie à família Bolsonaro. "Se foi em mãos, se foi na caixinha de correio, se foi na caixinha em cima da mesa dele, da primeira-dama... Entregou para eles. Em espécie", contou.

Em outro momento da entrevista, Bitencourt afirmou que está se inteirando sobre detalhes do processo, e que vai entrar em contato com o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF) para dizer que Cid está disposto a "admitir a prática 'desse e daquele fato'".

O advogado confirmou a versão de que Bolsonaro deu ordens a Mauro Cid para vender o relógio, e que parte do dinheiro da venda foi depositado na conta do pai do ex-ajudante de ordens, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, que morava nos Estados Unidos.

"Eu disse que ele [Cid filho] é um assessor que cumpre ordens. 'Resolve o problema desse relógio', e ele, como bom militar, como bom assessor, pegou saiu atrás para resolver. As providências foi ele que tentou por própria. Foi realizar o atendimento da determinação. Ele efetuou a venda, depois recuperou para trazer. Ao efetuar essa venda, ele não podia vir com o dinheiro todo no bolso. Pegou e fez o depósito na conta do pai", disse, para na sequência afirmar que Lourena Cid não tem relação com o caso.

Em outro momento de contradição, Bitencourt disse não tinha conversado com representantes da defesa de Bolsonaro. Mais tarde, reconheceu aos jornalistas da Globonews que conversou com um advogado do capitão reformado, mas que não lembrava o nome desse representante. Pressionado, "se lembrou" que o advogado em questão era Paulo Cunha Bueno.

O contato entre os representantes de defesa de Mauro Cid e Jair Bolsonaro teria acontecido na quinta-feira (17), por telefone, depois que a revista Veja publicou reportagem que dava conta da confissão que Mauro Cid estava disposto a fazer.

A reportagem da revista Veja, aliás, chegou a ser contradita pelo próprio advogado de Mauro Cid. Em contato com repórter do jornal O Estado de S. Paulo, Bitencourt disse, por escrito: "Não tem nada a ver com joias! Isso foi erro da Vejs (sic) não se falou em joias!". Diante disso, enquanto ele conversava com a Globonews ao vivo, a revista compartilhou áudios de entrevista gravada em que ele fala textualmente a palavra "joias".

Em meio a tantas idas e vindas, o advogado foi perguntado se ele ou Mauro Cid estão sofrendo algum tipo de pressão ou ameaça, e se temia pela segurança do militar. Bitencourt disse que sim.

"Temos sim, tenho que temer. Essa é a nossa, a grande preocupação. O estado tem que dar segurança. Por isso quero falar também com o ministro [Alexandre de Moraes]. A gente precisa de segurança da família". Ao ser perguntado sobre quem ameaçava a família, ele disse "eu acho que ninguém, ainda. A gente não tem que esperar as coisas acontecerem. Que eu saiba, ninguém ameaçou até agora".

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