Guerra contra os pobres: governo de extrema direita italiano cancela programa de renda mínima

 Calcula-se que programa tirou cerca de quatro milhões de italianos da pobreza

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, tem deferido ataques às políticas sociais do país, como impedir a entrada de imigrantes e o registro de filhos de casais do mesmo sexo

Cerca de 170 mil famílias italianas foram avisadas por mensagens de celular que o programa de renda mínima italiano, o Renda de Cidadania (Reddito di Cittadinanza), em vigor desde 2019 na Itália, deixará de existir. Acaba assim a iniciativa na qual o Estado oferece às famílias em situação de pobreza valores de até 780 euros mensais (equivalentes a R$ 4 mil).

A primeira-ministra do país e líder do partido de extrema direita Irmãos da Itália, Giorgia Meloni, alega que o programa é assistencialista e fonte de fraudes. "Estamos reformando o renda de cidadania para fazer a diferença entre aqueles que podem trabalhar e aqueles que não podem", justificou Meloni.

Contudo, a afirmação de Meloni contradiz o que o Instituto Italiano de Estatística (Istat) revelou em sua pesquisa sobre o Renda de Cidadania.

De acordo com o Istat, o programa fez com que ao menos 1 milhão de italianos superassem a pobreza. Somente em 2022, 1 milhão de famílias foram beneficiadas, o que corresponde a 4 milhões de pessoas atendidas.

Manifestações estão sendo organizadas pelo país, sobretudo, nas cidades no sul da Itália, onde os índices de pobreza são maiores em relação ao resto do país.

Guerra contra os pobres

A previsão é que até janeiro de 2024 o programa deixe de existir. Em seu lugar, o governo italiano irá oferecer novas alternativas de acordo com o perfil do beneficiário.

Um dos principais projetos é o “cheque de inclusão”, em que famílias de baixa renda com pelo menos um menor de idade, um idoso ou uma pessoa com deficiência em casa serão beneficiados. Contudo, terão que comprovar residência no país por cinco anos, do qual ao menos dois anos precisam ser ininterruptos.

Às famílias que tiverem ao menos um membro apto para trabalhar e que estejam fora de outros critérios exigidos para a aquisição do benefício, o governo oferecerá apoio à formação e 350 euros mensais durante um ano (cerca de R$1.850). Para isso, o requerente terá que provar que já procurou ao menos três agências de trabalho e deverá preencher uma declaração de disponibilidade imediata para o trabalho.

O governo Meloni alega que, desta forma, conseguirá estimular a juventude italiana a procurar trabalho, uma vez que a taxa de desemprego entre jovens de 15 a 24 anos supera em quase três vezes a média nacional.

Mas a jornalista independente que vive na Itália, Janaína Cesar, disse que "o governo Meloni anunciou o cancelamento da forma mais cruel, por mensagem de celular, sms. É comum ver empresas fazendo isso, mas um governo de extrema direita que fez sua campanha centrada na figura da família acaba de deixar no desespero 169 mil delas."

"É uma guerra contra os pobres. Como vão fazer para viver sem essa renda? Ninguem sabe. Essa renda ajudava as regiões do sul da Itália, que sofrem abandono por falta de emprego, infra-estrutura."

"Ao mesmo tempo, o governo ajuda a classe empresarial com incentivos, isenções fiscais, perdões de dívidas. Meloni jogou uma bomba no país e veremos os resultados em breve. No Sul, as pessoas já fazem protestos em frente à órgãos do governo. As próximas semanas devem ser decisivas", afirma. 

A jornalista lembra que não são apenas os pobres que estão na mira do governo, mas também as minorias. Recentemente o governo Meloni proibiu o registro de nascimento de filhos de casais de lésbicas.

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