EUA usam Ucrânia e "herói" Zelensky para lucrar com venda de armas, diz professor da UnB
Juliano Cortinhas destaca que apoio a Kiev poderia ocorrer de outras maneiras mais efetivas
A participação das grandes potências na guerra da Ucrânia não tem como objetivo “minimizar as perdas humanas”, avalia o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Juliano Cortinhas. Enquanto retratam o conflito de uma maneira “maniqueísta”, a indústria da guerra e investidores podem lucrar mais, destaca o pesquisador.
“Isso fica evidente quando, ao invés de pressionarem ambos os lados para que haja um acordo de paz, para que haja um restabelecimento, enfim, de diminuição das perdas, para que haja um saída para a crise, a principal preocupação desde o início tem sido aumentar o nível de apoio militar à Ucrânia e diminuir as possibilidades de a Rússia manter o conflito”, diz Cortinhas.
A guerra na Ucrânia já resultou em mais de 5 milhões de refugiados e 2.072 civis mortos, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Os números de militares mortos são controversos e não foram verificados de maneira independente, mas o Ministério da Defesa da Ucrânia diz que 20.900 militares russos já morreram.
Com Moscou e Kiev descontentes com os atuais termos de negociação, uma resolução diplomática e de curto prazo para encerrar a guerra é improvável, afirmou semana passada pesquisador ucraniano ouvido em reportagem. O campo de batalha, portanto, será vital para o futuro do conflito.
E em meio a esses confrontos, os Estados Unidos buscam garantir munição para os ucranianos. De acordo com o Ministério da Defesa dos EUA, a Casa Branca já forneceu US$ 2,4 bilhões em armas para a Ucrânia desde o início da invasão russa. O valor foi gasto em itens como 50 milhões de unidades de munição, 7 mil armas pequenas, 16 helicópteros Mi-16, blindados, radares, explosivos, drones, entre outros.
“A Rússia fez uma ação ilegal, mas esse apoio à Ucrânia poderia estar se dando de várias formas, uma delas era forçando os russos, efetivamente, à mesa de negociação e mantendo a porta aberta para o diálogo com [Vladimir] Putin. Não é isso que vem sendo feito. O que vem sendo feito é uma série de medidas para aumentar a capacidade de defesa e contra-ataque da Ucrânia, isso tende a alongar a guerra no tempo, e o objetivo claro é de enfraquecer a Rússia, porque a Rússia é vista no Ocidente como inimiga”, avalia Cortinhas.
Em comunicado diplomático enviado aos Estados Unidos, a Rússia protestou contra o envio de armas e disse que a medida “adiciona combustível” ao conflito e pode trazer “consequências imprevisíveis”, afirma o jornal The Washington Post.
Preço dos alimentos e objetivo estratégico da Casa Branca
A comida nunca esteve tão cara. O Índice de Preços de Alimentos da Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) registra o seu mais alto índice desde a criação do indicador, em 1990. O índice é composto pelo preço de cinco grupos de alimentos e encontrou os preços mais altos da história para óleos vegetais, cereais e carnes.
“O aumento deste mês refletiu um aumento nos preços mundiais de trigo e grãos grossos, em grande parte devido a interrupções nas exportações relacionadas ao conflito na Ucrânia e, em menor grau, da Federação Russa. A perda esperada de exportações da região do Mar Negro exacerbou a já restrita disponibilidade global de trigo”, afirma a FAO em comunicado.
Em países com índices de desemprego elevados, como o Brasil, o cenário é ainda mais dramático.
“Essas variações nos preços de alimentos, essas variações nas bolsas internacionais, o preço do petróleo, enfim, elas trazem muita instabilidade econômica, mas elas dão um potencial de ganho muito grande aos investidores principais ao redor do mundo que percebem essas movimentações e vão lucrando. Então há um lucro bastante importante da indústria de alimentos”, afirma o coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Segurança Internacional da UnB, Juliano Cortinhas.
O pesquisador destaca que não há “santos” envolvidos em nenhum dos lados e ressalta que o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, é construído como uma espécie de “grande líder, herói” para que as empresas bélicas dos Estados Unidos possam faturar — mas, além disso, há um objetivo estratégico da Casa Branca em cena.
“Sem dúvida, há um interesse muito grande no lucro financeiro. O lucro propriamente dito, em termos monetários, existe, é um dos objetivos, mas o objetivo principal é um ganho estratégico, de enfraquecimento daquela que é uma das suas principais adversárias [dos EUA] militarmente falando”, avalia.
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