A embaixadores, Bolsonaro ataca urnas e tribunais, ameaça golpe e chama MST de ‘grupo terrorista’
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Bolsonaro lançou a ameaça a presidente do TSE: “Será que se esqueceram que sou o chefe supremo das Forças Armadas?”
Jair Bolsonaro convidou dezenas de embaixadores de vários países ao Palácio da Alvorada nesta segunda-feira (18), em nome da democracia e “transparência das eleições”, para ameaçar a democracia e prometer um golpe. Os diplomatas convidados ouviram o mandatário declarar ter “quase 100 vídeos de pessoas reclamando que foram votar e o voto foi para outra pessoa”. Segundo ele, a intenção de sua fala golpista é a defesa de eleições limpas. “Queremos corrigir falhas e democracia de verdade.”
Bolsonaro afirmou aos embaixadores que todas as “falhas” apresentadas pelas Forças Armadas – por meio de seu ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira – podem ser “corrigidas” antes da eleição. E provocou, ao dizer que, se não são “corrigidas”, é porque as autoridades, a começar do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edson Fachin, e do vice, Alexandre de Moraes, não querem.
Segundo Bolsonaro, a intenção de levar os diplomatas ao palácio era para mostrar “transparência e confiança nas eleições”. “Nós não queremos instabilidade no Brasil”, garantiu. Mas continuou a atacar o sistema eleitoral, os tribunais (TSE e STF) e seus ministros. Acusou “um grupo de três pessoas (Fachin, Moraes e Luís Roberto Barroso) que querem trazer instabilidade para o nosso país, (e que) não aceitam as sugestões das Forças Armadas”.
Ele disse que as Forças Armadas têm propostas que “estancam a manipulação de números” e que o próprio TSE reconheceu fraudes “por ocasião das eleições de 2018”. Na continuidade de seu discurso irracional e mentiroso, com semblante grave, disse, com uma frase apanhada fora de contexto, que “o próprio TSE diz que números podem ser alterados”.
Dirigindo-se a Fachin, lançou suspeição sobre o ministro citando uma fala do magistrado, segundo o qual “quem trata de eleições são as forças desarmadas”, e questionou: “Por que nos convidaram? Será que se esqueceram que sou o chefe supremo das Forças Armadas?”, perguntou o chefe de governo.
“Fachin tornou Lula elegível”
Depois, pontuando as sílabas, classificou como “i-na-cre-di-tá-vel” uma fala de Fachin, “o homem que tornou Lula elegível”, segundo destacou. Aqui Bolsonaro voltou a mentir e confundir, já que a libertação de Lula foi decisão do plenário do STF. Em seguida, repetiu outras mentiras, ainda sobre o atual presidente do TSE, e também do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. Sobre Fachin, que “sempre foi advogado do MST”, que definiu como “um grupo terrorista que até há pouco tempo era bastante ativo no Brasil”. Ambas as mentiras já foram desmentidas inúmeras vezes.
A frase “inacreditável” que atribui a Fachin, descontextualizada, foi: “Auditoria não é instrumento para rejeitar resultados das eleições”. Em seguida, Bolsonaro acrescentou: “Para que serve auditoria? Tenho vergonha de estar falando isso pra vocês.”
Citando o ministro Alexandre de Moraes, disse: “Quem define o que é fake news é o próprio TSE.” Dizendo que está sendo processado pelo magistrado por disseminar fake news, ameaçou: “Eu não sei onde ele acha que pode parar”. Disse que “o TSE desmonetiza páginas, derruba outras, sugere prisões, cassa parlamentar por coisas que não têm tipificação na lei”.
Bolsonaro reclamou perante os embaixadores que convidou o presidente do TSE para comparecer ao evento, que “não veio”, “os presidentes de todos os poderes”, o presidente do STM, Superior Tribunal Militar. “Não compareceram, (mas) tudo bem”.
À espera de “um presidente normal”
Para a pesquisadora Miriam Gomes Saraiva, do Departamento de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), os atores internacionais apostam que, após as eleições, “vai entrar um presidente normal” para presidir o Brasil. A impressão que todo o mundo tem, diz, é de que Bolsonaro tenta repetir o que Donald Trump fez: questionar o sistema eleitoral e abrir espaço para o caso de não ganhar e tentar reverter. “O pessoal sente a ameaça de golpe.”
Ela lembra que, nos Estados Unidos, o deputado democrata Tom Malinowski, de Nova Jersey, chegou recentemente a propor uma lei que vincula o envio de recursos da Defesa dos Estados Unidos ao Brasil à neutralidade das Forças Armadas brasileiras nas eleições de outubro.
Em até 30 dias após a promulgação da lei proposta, o secretário de Estado deverá submeter um relatório ao Congresso americano sobre as ações tomadas das Forças Armadas do Brasil em relação às eleições presidenciais brasileiras. O dispositivo seria incluído no National Defense Authorization Act, como é intitulada a lei orçamentária para Defesa dos Estados Unidos.
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